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11 Jan
Inverno, Neve, Turismo e Viagem

RELATO 3 – 1° dia em Murmansk, Rússia

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Antes de qualquer coisa, precisamos falar da tal “noite polar”. Desde o dia 3 de dezembro o sol não nasce mais aqui na região (fenômeno comum nas regiões dos polos), mas isso não significa necessariamente escuridão total durante 24 horas. A partir das 10h da manhã, o dia começa a clarear, mas o sol nunca aponta no horizonte. Fica só aquela coloração laranja e é o máximo que temos de luz. Um pouco assustador pra nós, brasileiros, mas ao mesmo tempo interessante e diferente pra quem está viajando e querendo viver outras experiências.

E na minha primeira “manhã” dentro de uma noite polar, eu meio que perdi a hora de acordar. Foram tantos voos, tantas mudanças de fuso entre Brasil, França e Rússia que acabei conseguindo levantar só às 10h50 (eu queria ter levantando às 9h, sei que estou de férias, mas tenho que organizar as coisas direitinho senão passo o dia dormindo, me conheço). Olhei pela janela e realmente estava amanhecendo. Fui tomar o café da manhã (que mais parecia um almoço, tinha arroz, feijão, ovo frito, almôndegas 😳) e depois disso decidi sair antes que escurecesse de novo.

Pra enfrentar a temperatura matinal de -8°C, coloquei tudo o que tinha direito: 2° pele, blusa, meia grossa, tênis pra neve, blusão de neve, cachecol, touca, luva. Me senti um bonequinho do South Park, só que a versão de Olinda, com esses 2 metros de altura que tenho. E lá fui eu caminhar nas ruas de Murmansk!

Hoje eu já tinha um plano na mente: aproveitar as poucas horas de claridade pra visitar um monumento chamado Alyosha, uma estátua de quase 35 metros de altura erguida em memória dos Defensores do Ártico Soviético durante a grande Guerra Patriótica. Além da história que esse memorial carrega, há um outro espetáculo: a estátua fica no alto de um morro aqui de Murmansk, de onde você consegue ter uma vista gigantesca de toda a cidade. Eu sou fanático por mirantes e skylines durante minhas viagens, então lá fui eu “subir a montanha sem fazer manha” (referência ao jogo HUGO, da TV Gazeta, galera millennial talvez não entenda, foi mal).

Eu ainda tô meio traumatizado pela viagem de ônibus de ontem do aeroporto pro centro e a dificuldade de comunicação. Então, dessa vez eu saí do hotel mais preparado: coloquei o Google Maps pra rodar e lá fui eu seguindo o caminho utilizando a tecnologia a meu favor pra chegar no Alyosha Monument. Foi uma caminhada de quase 1 hora de duração saindo do centro, e o que vi: neve, linha de trem, carros com neve, alguns prédios residenciais bem antigos, vários playgrounds (sem crianças, só neve), placas de tudo que não consegui ler nada, huskies (fofuras ), porto, barcos, navios, montanhas. No caminho, praticamente não vi ninguém subindo o morro também. Hoje provei a sensação de estar longe de tudo e todos sozinho no mundo. E mesmo se aparecesse alguém, eu não ia poder conversar. Então me conformei e depois de uma bela subida, cheguei ao topo da montanha!

CARAAAAA! Que vista é aquela! Sério, acho que durante todos os dias que ficarei aqui em Murmansk eu subirei lá de novo, porque a vista é fora do normal. Ali você tem a sensação de estar no polo norte mesmo. De estar no topo do planeta, de estar isolado, e o frio então? Nunca tinha sentido um vento tão gelado, cortante, que congela tudo! Tentei fazer duas lives no Instagram pra passar um pouco da sensação, e adivinha: o celular desligava após aparecer uma mensagem de que “a temperatura da bateria estava muito baixa”. COMAAASSSIM? Sério, meu celular congelou, coitado! Aí desligou, não consegui nem tirar foto, nem nada, e nessa hora pensei: F…. Tomara que não precise falar com ninguém, pedir nenhuma informação, nenhuma ajuda! Eu ri, mas de nervoso!

Fiquei um tempo por ali pensando na vida, só curtindo a paisagem e ouvindo apenas o barulho do vento, e quando comecei a descer a montanha, fiz algumas caminhadas ali por perto mesmo. Tinha gente esquiando num grande campo aberto congelado, crianças brincando num parquinho, muitos cachorros passeando com seus donos. Aliás, detalhe: eram 14h e já estava quase tudo escuro de novo. A luz estava indo embora e realmente o sol nem nasceu. A noite polar mexe mesmo com a gente, eu senti sono o dia todo hoje aqui. Melatonina na veia o tempo todo!

Caminhei um pouco pelo centro, entrei pela primeira vez num supermercado daqui, e que engraçado: quando a gente não consegue ler nada, tudo parece gostoso e diferente do que a gente come. Comprei salgadinho, iogurte, refrigerante, não sabia nem qual o sabor, mas como eu iria pedir pra alguém me ajudar, se meu celular estava congelado? No caixa, a senhora me falou um monte de coisa em russo, viu que eu não entendi, me mostrou uma sacola, fiz sinal que queria (e aqui a sacola é paga, assim como no Brasil), paguei, e arrisquei no final um “Спасибо”, que se pronuncia Spasibo, o “obrigado” em russo. Ela sorriu e falou um monte de coisa em russo de novo, mas sorrindo. Então acho que foi coisa boa! Acho que foi tipo um: “de nada, vai com Deus meu filho, porque tá frio aí fora, se agasalha bem”. Lembrei dos conselhos da Dona Nair nessa hora!

Portanto, deixo aqui minhas percepções nesse 1° dia em Murmansk:

Poucos turistas estrangeiros. Vários turistas russos;

Muitos enfeites de natal por todo o lado. Realmente, o Papai Noel é daqui, tenho certeza, faz todo sentido agora aquela roupa toda;

– Paisagens naturais incríveis. Sensação de segurança nas ruas e pessoas bem tranquilas e bem “na delas” caminhando e cruzando contigo;

Transporte passa o tempo todo. Tem microônibus e também MUITOS trólebus. É até bonito de ver esses trólebus, eles dão um charme pra cidade;

Pessoal gosta de caminhar nas praças do centro da cidade no meio da neve, geralmente passeando com cachorro;

O trânsito é bem doido mesmo. Os carros quase batem uns nos outros, e acho que a neve ajuda a escorregar. Mesmo assim, eles parecem acelerar e jogar o carro em cima quando algo errado acontece, então aqueles vídeos do Youtube sobre o trânsito na Rússia são bem reais, viu!;

– O frio intenso deixa todo mundo de cara fechada e agora entendo, quem vai conseguir sorrir o tempo todo com aquele vento? Sério, uma hora eu estava tentando tirar uma selfie sorrindo e quando o vento bateu no dente, meuuu, parecia uma maquininha de obturação. Aaaaah, fechei a boca e falei: vai sério mesmo.

Esse foi só o primeiro dia. E agora, confesso que o frio na barriga bateu: às 21h (16h no horário do Brasil), o pessoal da expedição de caça às auroras boreais passará aqui no hotel pra me pegar. Tô ansioso, com medo, sei lá, acho que chegou a hora de saber se vou conseguir ver mesmo esse fenômeno, enfim, agora já era. Tô aqui terminando o post e indo se arrumar pra sair da cidade rumo aos campos mais escuros de neve pra tentar visualizar esse espetáculo da natureza. Torçam por mim. Que meu próximo post seja com ao menos uma foto bem bacana das auroras, POXAAAA! Bora lá! 

>> E para ler os outros relatos do #CrisnaEstrada na Rússia, basta clicar nos links abaixo:

Relato 1 – Voo para São Petersburgo

Relato 2 – Chegando no Polo Norte

Relato 4 – A primeira aurora boreal a gente nunca esquece

Relato 5 – 2° e 3° dia em Murmansk, Rússia

Relato 6 – Chegando em Moscou, Rússia

Relato 7 – Um sábado em Moscou, Rússia

Relato 8 – Tchau, Rússia

Acompanhe também todos os registros do projeto #CrisnaEstrada via Instagram!

 

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SOBRE O
PROJETO

“Um professor itinerante que tem um prazer enorme em compartilhar conhecimento pelo Brasil e mundo”. Esse é o projeto #CrisnaEstrada, e nesse espaço você encontrará, a partir de agora, um pouco dos bastidores dessas viagens que faço a trabalho e/ou a passeio. Trarei dicas, curiosidades e histórias dos mais variados destinos. O mundo visto por um palestrante, professor e turista que ama viajar. Enjoy!

#CRISNA
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